Pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP aponta que
o projeto de implantação de parques públicos em áreas que abrigavam
lixões ou aterros controlados deve ser feito somente após uma
investigação detalhada dos riscos de contaminação. A geóloga Luzia
Helena Barros analisou a criação de dois parques na cidade de São Paulo e
verificou as mudanças na legislação e no controle do poder público para
evitar que os frequentadores sejam afetados pelos resíduos existentes
nos antigos aterros.
Os parques analisados foram o Raposo Tavares (zona oeste), implantado em
1981, com 195 mil metros quadrados de área, e o Parque Jardim
Primavera, na Vila Jacuí (zona leste), com 122 mil metros quadrados
(m2), atualmente em fase final de instalação. “Na época da implantação
do Parque Raposo Tavares não havia legislação que exigisse a
investigação sobre níveis de contaminação”, aponta Luzia. “A própria
criação oficial do parque acontece apenas em 2008, com o decreto
municipal 50.289”.
As análises envolvem investigação do subsolo e das águas subterrâneas e
de córregos próximos, para verificar índices de contaminação. Também é
feita a medição de gases, em especial da disponibilidade e da emissão de
metano, formado a partir da degradação do lixo. “Se o gás estiver no
solo ele pode migrar e na presença de uma fonte de ignição, pode
explodir”, observa a geóloga.
No caso do Parque Raposo Tavares, uma reforma foi realizada em 2005,
para abrir caminhos para os frequentadores, colocar pisos drenantes e
mais equipamentos de lazer. “No entanto, até hoje não foi feita nenhuma
medição da contaminação, apesar do potencial de risco ser conhecido pela
administração do parque”, afirma Luzia. “A própria remoção de material
superficial pode expor resíduoacumulados no solo e há necessidade de
drenagem específica para remover o chorume, líquido oriundo do lixo
degradado”.
Controle
A exigência de investigações ambientais em áreas degradadas surgiria
apenas em 2002, com o decreto municipal 42.319, que criou o Cadastro de
Áreas Contaminadas e Suspeitas de Contaminação. “Foi criado um grupo
específico dentro da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente
(SVMA), o Grupo Técnico Permanente de Áreas Contaminadas (GTAC), para
estabelecer procedimentos de prevenção e controle”, conta a geóloga. “A
lei municipal 13.564, de 2003, incluiu as áreas potencialmente
contaminadas no cadastro e criou a exigência de Laudo Técnico de
Avaliação de Risco para empreendimentos em áreas com possível
contaminação”.
Antes da elaboração do projeto do Parque Jardim Primavera, criado pela
lei 13.308 em 2002 e implantado sobre o antigo aterro Jacuí, o GTAC,
vinculado ao Departamento de Controle da Qualidade Ambiental da SVMA,
realizou a avaliação confirmatória e de risco à saúde humana.“Os
resultados foram encaminhados para o Departamento de Parques e Áreas
Verdes (Depave), responsável pelo projeto do parque”, conta Luzia.
“Devido a identificação de contaminação em algumas regiões do aterro e
de metano na massa de resíduos foi necessário fazer um zoneamento para
evitar escavações que pudessem expor detritos e delimitar áreas a serem
recobertas com solo argiloso e gramíneas ou isoladas”.
A investigação também serviu de subsídio para o arquiteto que projetou o
parque para planejar revestimentos nos caminhos que dificultassem a
exposição superficial do lixo degradado. “A administração municipal
decidiu implantar o parque em duas etapas, iniciando-a pelo trecho onde
não houve disposição de resíduos”, relata a geóloga. “Entretanto, as
escavações revelaram indícios de contaminação, obrigando a paralisação
da obra e a realização de análises mais detalhadas, que demandaram
alterações no projeto”.
As obras recomeçaram no final de 2010 e a primeira etapa foi concluída,
mas a implantação da segunda fase foi embargada pelo Ministério Público
em março deste ano, devido a não instalação de sistema de extração de
gases. Não há previsão para retomada das obras e a inauguração do
parque.
De acordo com Luzia, o uso de antigos aterros para criar parques visa
oferecer a população mais áreas verdes e de lazer, especialmente na
periferia. “Mas como são locais degradados, em que houve despejo
indiscriminado de lixo, é necessário controle para evitar contaminação”,
destaca. “As investigações devem atingir o maior detalhamento possível e
a implantação também pode servir de laboratório para identificar
espécies vegetais mais adequadas para a cobertura do solo”.
Fonte: Exame
Nenhum comentário:
Postar um comentário