O mundo deve falar sobre saneamento
O saneamento é vítima da fragmentação institucional, do fraco planejamento municipal, de sua ausência entre as prioridades e dos tabus. Cerca de milhares de crianças morrem por ano pela ingestão de água de má qualidade, bem como pela falta de higiene e saneamento adequados. Mais de um terço da população mundial carece de acesso a instalações básicas do setor, que é o caso de São Roque.
O saneamento é um dos menos mencionados entre os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Várias organizações e agências da Organização das Nações Unidas aceleraram seus esforços para reduzir a população carente destes serviços ao menos pela metade até 2015, data-limite do cumprimento destas metas.
As maiorias das pessoas de nosso município vivem sem saneamento adequado, das quais grande parte são meninas e meninos.
O saneamento, como problema, é um órfão político, muitos municípios têm vários planos com uma responsabilidade apenas parcial nesse assunto. Mais ainda que a água, o saneamento sofre uma combinação de fragmentação institucional, débil planejamento municipal e escasso status políticos.
A pobreza é outra barreira. Os lares mais pobres carecem de capacidade financeira necessária para adquirir instalações sanitárias. Metade das pessoas sem saneamento adequado vive com renda diária inferior a dois dólares. E os pobres são menos capazes de influir na tomada decisões.
Mas, há outros fatores. Entre eles a demanda por moradia e a desigualdade de gênero. as mulheres tendem a dar mais importância ao saneamento do que os homens, mas as prioridades femininas têm menos peso no orçamento familiar.
O que vimos hoje, é que o saneamento e os dejetos humanos são problemas pouco presentes no debate público.
O saneamento é uma palavra suja em muitas culturas. Talvez o maior obstáculo seja o estigma ao qual está associado. É parecido com o que acontece em relação à AIDS, mas, ao contrário desse caso, o tabu cultural e social associado ao saneamento permanece intacto. Em parte por isso o saneamento não se destaca no debate público. Devemos começar a falar sobre “merda” e despertar consciências sobre os assombrosos custos do déficit de saneamento. Temos de reconhecer que o acesso ao saneamento é um direito básico.
As conseqüências da falta de saneamento entre as crianças são que aproximadamente 1,8 milhões de crianças morrem por ano devido a diarréia, o que representa 4.900 mortes por dia. Isto equivale à população menor de 5 anos de Londres e Nova Yorque juntas. O acesso ao saneamento é um dos fatores mais fortes de sobrevivência infantil: a transição de um saneamento sem melhoria para um melhorado reduz em um terço a mortalidade infantil.
Calcula-se que a cada ano se perde 443 milhões de dias de aula por culpa de doenças relacionadas com a água e esgoto.
Autor: Ronald Rodrigues (Diretor da ARP)