Saneamento básico ainda é desafio para o Brasil

Melhores condições de saneamento resultam em melhores condições de vida para a população e redução de gastos com a saúde. A sociedade ocidental moderna sabe disso desde o primeiro sistema de drenagem de esgotos do mundo em Paris, no fim do século 19. Só o Brasil parece não ter aprendido a lição.

Mais de metade da população, precisamente 57%, ainda não tem acesso a esgoto. A ausência de saneamento é responsável pela proliferação de centenas de doenças que podem levar à morte. As crianças são as mais afetadas. É um descaso de décadas. Afinal, requer investimentos de vulto e que ficam sob a terra, sem aparecer para os eleitores. A lei do saneamento básico só foi sancionada em 2007, depois de anos parada no Congresso.

Recentemente, a pesquisa Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro, produzida pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, constatou que o Sistema Único de Saúde economizaria R$ 745 milhões e salvaria 1.200 vidas por ano com a universalização do saneamento. Haveria um crescimento de R$ 1,9 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) do setor de turismo. São necessários argumentos econômicos para convencer os governantes a investir dinheiro público em saneamento. Vidas que poderiam ser salvas já não servem de argumento.

Os municípios, em geral, não têm recursos. Estados e União não se entendem sobre financiamento, e nada se faz. E, quando se faz algo, os governantes contrariam os melhores modelos quanto à sustentabilidade. Pequenas centrais de tratamentos nos bairros, mais baratas e eficazes, são adotadas na Europa. Quando vemos as iniciativas propostas por governo e empresários, encontramos megaprojetos, mais caros e demorados. Só que a Saúde da população não espera.


Paulo Sá - Médico e professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis



Fonte: o Dia