O governo do Estado já investiu US$ 1,6 bilhão nas duas primeiras fases
do Projeto Tietê, um programa de despoluição destinado a coletar e a
tratar o esgoto jogado no rio in natura na região metropolitana. A sua
terceira fase, iniciada em 2009 com prazo de conclusão marcado para
2015, exigirá mais US$ 1,8 bilhão para a execução de 564 obras que
aumentarão o índice de esgoto coletado de 84% para 94%. Até 2020, todo
dejeto gerado deverá ser coletado e tratado. Infelizmente, este é, até
agora, um esforço isolado e, por isso, sob risco, como se pode concluir
do Relatório de Qualidade das Águas Superficiais no Estado de São Paulo.
Ele mostra que a maioria dos 176 municípios que integram a Bacia do Rio
Tietê - entre a nascente em Salesópolis e a divisa com Mato Grosso do
Sul, onde o Tietê deságua no Rio Paraná - nada tem feito.
Menos
de 30% das cidades têm sistema de coleta e tratamento total de esgoto e
outros 20% lançam seus dejetos sem nenhuma interferência no leito do rio
- a maioria desses municípios se localiza na região metropolitana,
coração do Projeto Tietê. Além da omissão das prefeituras, setores da
indústria e boa parte da população pouco se importam com o que despejam
no rio. Tanto é assim que, no ano passado, 3,3 milhões de metros cúbicos
de sedimentos foram retirados do rio. Em boa parte, toneladas de terra
levadas pelas águas das chuvas dos novos loteamentos e construções
erguidas sem a mínima preocupação ambiental. Desde 2011, mais de 15 mil
pneus foram retirados do Tietê.
Na Grande São Paulo, os únicos
municípios que colaboram com o governo paulista, além da capital, são
Salesópolis e São Caetano do Sul. Considerada toda a bacia, só 51
municípios têm coleta e tratamento de esgoto adequados - a maioria na
região de Araçatuba, cidade que é um exemplo de gestão do saneamento
básico. Há 12 anos, foi uma das pioneiras na decisão de entregar os
serviços de tratamento de esgoto à iniciativa privada. A tecnologia
avançada garante eficiência dos processos e a boa administração assegura
uma das menores taxas de água e esgoto para a população do município.
Antecipação,
colaboração e comprometimento com as futuras gerações deveriam ser
características da gestão do saneamento. No entanto, o que se vê na
Bacia do Rio Tietê são apenas algumas boas iniciativas isoladas, que,
por isso, correm o risco de ser anuladas. Durante quase duas décadas, o
governo estadual investiu pesadamente na recuperação do rio na região
metropolitana e a segunda maior cidade dela, Guarulhos, só acordou para o
seu dever de colaborar há pouco mais de dois anos. A explicação era o
fato de Guarulhos ser uma das oito cidades da região que não têm o
sistema de coleta e tratamento operado pela Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que é responsável pela execução
do Projeto Tietê. Diante da pressão da opinião pública, a prefeitura
local conseguiu recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
há dois anos e, finalmente, começou a investir em saneamento. Hoje 35%
do esgoto gerado pela população de mais de 1,2 milhão de habitantes está
sendo tratado antes do despejo no leito do Tietê.
O alcance do
Projeto Tietê é prejudicado pelo pouco-caso da maioria dos prefeitos das
cidades que compõem essa bacia. Uma das poucas exceções é Barra Bonita,
onde a vida aquática voltou e famílias das redondezas já conseguem
novamente sobreviver da pesca.
Estímulos não faltam. Nem para as
prefeituras nem para a população, que é em parte responsável pela
poluição do rio. O governo estadual vê seu esforço ser comprometido
também pela resistência de milhares de donos de imóveis à obrigação de
ligar as tubulações domésticas de esgoto à rede pública. O programa "Se
liga na Rede", voltado para famílias que ganham até três salários
mínimos, custeará 192 mil conexões com resultados diretos para 800 mil
pessoas.
O Projeto Tietê não pode continuar praticamente só por
conta do governo do Estado. Seu êxito depende da colaboração de todos os
seus beneficiários - municípios que integram sua bacia, empresas e
população.
Fonte: Estadão.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário