segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O fenômeno das Águas Emendadas e sua importância para o saneamento no Brasil

É no coração do Brasil que um fenômeno natural raro chama a atenção de especialistas e pesquisadores: são as águas emendadas. O que é isso? Para descobrir é preciso embarcar numa viagem intrigante que, às vezes, desafia até mesmo as leis da Física


 
A Estação Ecológica de Águas Emendadas é uma área de proteção integral do cerrado, que guarda um tesouro espetacular: uma única nascente, que dá origem a duas de nossas maiores bacias hidrográficas: Tocantins e Paraná. Por ser um local intrigante pela alta concentração de espécies animal e vegetal, a Estação Ecológica de Águas Emendadas é um campo farto para pesquisas sobre o cerrado e para a preservação de um dos maiores tesouros da atualidade: a água.

Próxima à capital federal, e abrigando uma rara diversidade de ecossistemas do cerrado perfeitamente preservados, a Estação Ecológica de Águas Emendadas é ponto-chave para as pesquisas que poderão resultar na preservação da biodiversidade do cerrado – bioma que abriga as cabeceiras de seis das oito bacias hidrográficas brasileiras.

Para o coordenador de Unidades de Conservação de Proteção Integral do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Paulo César Magalhães Fonseca, as águas emendadas são um fenômeno natural e com características únicas. “Existem no Brasil pelo menos cinco áreas onde as águas de duas regiões hidrográficas estão ‘emendadas’, mas como as existentes na Estação Ecológica de Águas Emendadas não se observam em nenhum outro local”, assegurou.

Segundo Paulo César, dois dos fenômenos parecidos ocorrem nas cercanias do Distrito Federal: conexão São Francisco – Paraná (córrego Arrependido, bacia do Rio Preto, entre o Distrito Federal e Unaí/MG, próximo à Usina Hidrelétrica de Queimado) e conexão São Francisco – Tocantins (Lagoa dos Santos, município de Formosa/GO, atualmente urbanizada e descaracterizada).

No fenômeno do córrego Arrependido, o Rio Preto capturou, por erosão regressiva, a drenagem do antigo rio São Marcos, que se deslocava no sentido norte – sul, o que inverteu o fluxo original e passou a correr no sentido de sul a norte, tornando-se tributário do rio Preto.

Os outros dois são: conexão Amazonas – Paraguai (pouco conhecida e de localização imprecisa) e conexão São Francisco – Tocantins (entre as cabeceiras dos rios Sapão e Sono, de difícil acesso).

Outro fenômeno parecido e que é sempre mencionado (mas também diferente de Águas Emendadas do DF), é o que acontece na bacia do rio Orinoco na Venezuela. Lá, o fluxo das águas do canal Casiquiare muda de direção de acordo com o regime de chuvas da bacia. Quando chove muito na bacia do Orinoco, suas águas sobem e o fluxo do Casiquiare dirige-se para o rio Negro. Mas quando as chuvas são maiores na bacia Amazônica e o rio Negro sobe, o Casiquiare reflui para o rio Orinoco.  
           
Como isso ocorre – o fenômeno de dispersão de águas para lados opostos tem sua origem no Brasil Central, desaguando no oceano Atlântico, nas extremidades norte (foz do rio Tocantins) e sul (estuário do rio da Prata, divisa entre a Argentina e o Uruguai). Águas Emendadas situa-se no nordeste do Distrito Federal, ao norte da Região Administrativa de Planaltina. Localiza-se a uma distância de aproximadamente 50 km do centro de Brasília e a 5 km do centro de Planaltina. A área de preservação ambiental é de 10.547,21 hectares.

O fenômeno existente na Estação Ecológica de Águas Emendadas sempre intrigou os pesquisadores devido a sua singularidade, ou seja, a partir de uma vereda de 6 km, num terreno extremamente plano, origina-se uma drenagem, o córrego Brejinho, em direção a Bacia do rio São Bartolomeu, que é tributário da Bacia do Paraná, e outra drenagem, a do córrego Vereda Grande, pertencente à Bacia do Maranhão, que integra a Bacia do Tocantins/Araguaia.

“A vereda encontra-se na porção topograficamente mais elevada. Existe uma rampa de escoamento superficial que forma a drenagem do Córrego Vereda Grande e outra rampa que origina o Córrego Brejinho. Cada rampa é condicionada pela falha que separa os dois pacotes”, comentou Paulo César, do Ibram.

 Em linguagem técnica, fisicamente, o fenômeno é uma nascente no topo, alimentada por aquíferos formados nos quartzitos e barrada por metarritmitos argilosos. Cada córrego escoa por uma calha de drenagem condicionada pela falha, tendo uma litologia específica de cada lado do canal.
 

Fonte: Aurélio Prado - Assimp Aesbe e Editor-chefe da Revista Sanear

Nenhum comentário:

Postar um comentário