É no coração do Brasil que um fenômeno natural raro chama a atenção
de especialistas e pesquisadores: são as águas emendadas. O que é isso?
Para descobrir é preciso embarcar numa viagem intrigante que, às vezes,
desafia até mesmo as leis da Física
A Estação Ecológica de Águas Emendadas é uma área de proteção integral
do cerrado, que guarda um tesouro espetacular: uma única nascente, que
dá origem a duas de nossas maiores bacias hidrográficas: Tocantins e
Paraná. Por ser um local intrigante pela alta concentração de espécies
animal e vegetal, a Estação Ecológica de Águas Emendadas é um campo
farto para pesquisas sobre o cerrado e para a preservação de um dos
maiores tesouros da atualidade: a água.
Próxima à capital federal, e abrigando uma rara diversidade
de ecossistemas do cerrado perfeitamente preservados, a Estação
Ecológica de Águas Emendadas é ponto-chave para as pesquisas que poderão
resultar na preservação da biodiversidade do cerrado – bioma que abriga
as cabeceiras de seis das oito bacias hidrográficas brasileiras.
Para o coordenador de Unidades de Conservação de Proteção
Integral do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Paulo César Magalhães
Fonseca, as águas emendadas são um fenômeno natural e com
características únicas. “Existem no Brasil pelo menos cinco áreas onde
as águas de duas regiões hidrográficas estão ‘emendadas’, mas como as
existentes na Estação Ecológica de Águas Emendadas não se observam em
nenhum outro local”, assegurou.
Segundo Paulo César, dois dos fenômenos parecidos ocorrem
nas cercanias do Distrito Federal: conexão São Francisco – Paraná
(córrego Arrependido, bacia do Rio Preto, entre o Distrito Federal e
Unaí/MG, próximo à Usina Hidrelétrica de Queimado) e conexão São
Francisco – Tocantins (Lagoa dos Santos, município de Formosa/GO,
atualmente urbanizada e descaracterizada).
No fenômeno do córrego Arrependido, o Rio Preto capturou,
por erosão regressiva, a drenagem do antigo rio São Marcos, que se
deslocava no sentido norte – sul, o que inverteu o fluxo original e
passou a correr no sentido de sul a norte, tornando-se tributário do rio
Preto.
Os outros dois são: conexão Amazonas – Paraguai (pouco
conhecida e de localização imprecisa) e conexão São Francisco –
Tocantins (entre as cabeceiras dos rios Sapão e Sono, de difícil
acesso).
Outro fenômeno parecido e que é sempre mencionado (mas
também diferente de Águas Emendadas do DF), é o que acontece na bacia do
rio Orinoco na Venezuela. Lá, o fluxo das águas do canal Casiquiare
muda de direção de acordo com o regime de chuvas da bacia. Quando chove
muito na bacia do Orinoco, suas águas sobem e o fluxo do Casiquiare
dirige-se para o rio Negro. Mas quando as chuvas são maiores na bacia
Amazônica e o rio Negro sobe, o Casiquiare reflui para o rio Orinoco.
Como isso ocorre – o fenômeno de dispersão de águas
para lados opostos tem sua origem no Brasil Central, desaguando no
oceano Atlântico, nas extremidades norte (foz do rio Tocantins) e sul
(estuário do rio da Prata, divisa entre a Argentina e o Uruguai). Águas
Emendadas situa-se no nordeste do Distrito Federal, ao norte da Região
Administrativa de Planaltina. Localiza-se a uma distância de
aproximadamente 50 km do centro de Brasília e a 5 km do centro de
Planaltina. A área de preservação ambiental é de 10.547,21 hectares.
O fenômeno existente na Estação Ecológica de Águas
Emendadas sempre intrigou os pesquisadores devido a sua singularidade,
ou seja, a partir de uma vereda de 6 km, num terreno extremamente plano,
origina-se uma drenagem, o córrego Brejinho, em direção a Bacia do rio
São Bartolomeu, que é tributário da Bacia do Paraná, e outra drenagem, a
do córrego Vereda Grande, pertencente à Bacia do Maranhão, que integra a
Bacia do Tocantins/Araguaia.
“A vereda encontra-se na porção topograficamente mais
elevada. Existe uma rampa de escoamento superficial que forma a drenagem
do Córrego Vereda Grande e outra rampa que origina o Córrego Brejinho.
Cada rampa é condicionada pela falha que separa os dois pacotes”,
comentou Paulo César, do Ibram.
Em linguagem técnica, fisicamente, o fenômeno é uma
nascente no topo, alimentada por aquíferos formados nos quartzitos e
barrada por metarritmitos argilosos. Cada córrego escoa por uma calha de
drenagem condicionada pela falha, tendo uma litologia específica de
cada lado do canal.
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Fonte: Aurélio Prado - Assimp Aesbe e Editor-chefe da Revista Sanear
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