sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saneamento, uma necessidade

Uma grande parcela dos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) é destinada ao atendimento de pessoas com doenças simples derivadas do uso de água não tratada e da falta de saneamento básico. Se 100% da população brasileira tivesse água tratada, esgoto sanitário e serviços de saneamento, as despesas com assistência médica seriam reduzidas de forma expressiva. A Fundação Getulio Vargas usou os dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento do Ministério das Cidades e fez estudos mostrando que apenas 49,4% da população brasileira conta com saneamento básico. Nas regiões metropolitanas a situação é um pouco melhor (ou menos pior), nas quais 33% dos que nelas vivem não têm acesso à rede de esgoto.

Esses dados são reveladores de uma situação assustadora, por se tratar de um serviço público básico e tecnologicamente simples, que nos países desenvolvidos já foi resolvido há muito tempo. Ao não oferecer saneamento básico para a totalidade da população, o Brasil joga no lixo uma imensidão de recursos públicos para atender doenças decorrentes. Para agravar esse quadro vale lembrar que os prejuízos não ficam apenas nos gastos visíveis contabilizados pelo SUS. Há também as perdas em dias parados e produção não realizada pelos trabalhadores acometidos por doenças decorrentes. Um dos mais importantes indicadores de desenvolvimento econômico e social é obtido pelo saneamento básico à disposição da população.

Na falta de dados confiáveis a respeito das perdas derivadas, os analistas fazem estimativas de aproximação precária, mas que permitem ver a gravidade do problema. Há quem afirme que o Produto Interno Bruto (PIB) poderia ser aumentado em até 20% se o Brasil conseguisse banir doenças simples decorrentes do precário estado de saneamento básico vigente. Não importa se o porcentual seja maior ou menor, o fato é que a convivência com tal quadro em pleno fim da primeira década do século 21 é algo inaceitável para um país que já tenha atingido o grau de desenvolvimento do Brasil. Governo e sociedade deveriam estabelecer como prioridade número um a liquidação completa e total dessa carência, sobretudo porque não se trata de investimentos caros demais e porque o país domina toda a tecnologia necessária à consecução dos projetos.

Estranhamente, porém, os assuntos relativos ao saneamento básico são pouco controversos e não ganham as discussões políticas nem as manchetes dos jornais com a mesma ênfase que assuntos até menos importantes. A maioria da população não conhece as estatísticas sobre a falta de saneamento nem sabe das suas graves consequências, e muita gente se revela surpresa quando confrontada com a informação de que metade da população brasileira não dispõe de saneamento básico. O próprio Ministério das Cidades, que veio para concentrar os esforços e as políticas públicas para os problemas urbanos, é um órgão tímido e obscuro, de pouca visibilidade e expressão mínima. Mais de três quartos da população brasileira vive nas zonas urbanas, fato que por si só deveria elevar esse ministério à condição de alta relevância nacional. Infelizmente, não é o que ocorre.

Fonte: Diário da Franca

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