Até 2030, o Brasil terá de investir cerca de US$ 5,5 bilhões para atender 83% da população que ainda não estará contemplada por serviços de tratamento de esgoto.
A estimativa foi realizada com base em dados de 5.570 municípios brasileiros numa pesquisa realizada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP) da USP. As análises foram feitas a partir de informações do Sistema Nacional de Informações e Saneamento, do Ministério das Cidades (4.547 cidades) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (1.023 municípios).
De acordo com a professora Sônia Valle Walter Borges de Oliveira, do Departamento de Administração da FEARP, responsável pela pesquisa, o estudo avalia não apenas os investimentos bem como o sistema mais adequado para o tratamento. O estudo fornece informações que permitirão a administradores públicos melhores ferramentas para estimar custos em relação aos investimentos com saneamento básico, principalmente na questão do tratamento de esgotos, até o ano de 2030, quando o País deverá ter cerca de 186,4 milhões de pessoas a mais para receberem tratamento de esgotos em relação aos dias atuais. “Vale lembrar que a pesquisa não envolve as propriedades rurais, mas apenas os centros urbanos dos municípios”, ressalta Sônia.
Para se chegar às estimativas, os pesquisadores desenvolveram um software em que foram inseridos cerca de 23 dados diferentes, referentes aos custos envolvidos no tratamento de esgoto. Entre as principais informações estão o consumo médio de água per capita das cidades. “Sabendo-se que desse consumo, 80% vira esgoto, conseguimos estimar o volume a ser tratado”, conta Sônia. Outros dados foram retirados da literatura sobre o tema, como por exemplo a produção média diária de matéria orgânica por pessoa lançada nos esgotos, medida indiretamente pela “Demanda Bioquímica de Oxigênio” (DBO). As temperaturas médias dos dias mais frios das cidades também fizeram parte do estudo. “Em temperaturas mais baixas as bactérias se alimentam e se reproduzem mais lentamente. Assim, precisamos usar esse parâmetro, que equivale à situação mais crítica do sistema de tratamento, para estimarmos as dimensões e os custos dos mesmos”, lembra a pesquisadora.
Mais população, maior gasto
De acordo com a pesquisa, o estado que mais precisará de investimentos no tratamento de esgoto será São Paulo, devido à grande população. De acordo com a pesquisadora, o estado deverá investir até 2030, aproximadamente US$ 916,5 milhões. “Podemos dizer que as cidades paulistas são bem assistidas, porém, o número elevado de habitantes é que determinará maiores investimentos”, justifica a professora.
Depois de São Paulo, seguem os estados de Minas Gerais (US$ 560 milhões), Rio de Janeiro (US$ 387 milhões), Bahia (US$ 371,6 milhões), e Rio Grande do Sul (US$ 336,5 milhões). De acordo com o estudo, o Distrito Federal é que menos necessitará de investimentos.
Modelo ideal
Além de estimativas de custos, a pesquisa também sugere o sistema ideal de tratamento de esgoto a ser utilizado nas cidades envolvidas. “Pudemos observar, por exemplo, que o sistema mais indicado pelo software para os municípios é o chamado sistema australiano de tratamento de esgoto”, diz Sônia.
Segundo ela, o processo pode ser considerado caro no início, mas depois torna-se mais barato. “O que encarece esse tipo de instalação é o sistema de impermeabilização, que evita a contaminação do solo e do lençol freático”, esclarece. A pesquisadora lembra que neste sistema são construídas uma lagoa anaeróbia, de forma quadrada, com profundidade mínima de 4,5 metros (m), e outra retangular, com profundidade de aproximadamente 1,20 m. “Por fluxo contínuo, a primeira lagoa abastece a segunda. Esta modalidade de sistema foi indicada para cerca de 81% das cidades envolvidas no estudo”, conta a pesquisadora.
A pesquisa Esgoto Sanitário no Brasil: avaliação de alternativas de tratamento e valores de investimento para auxílio à tomada de decisão foi concluída em novembro de 2009 e foi recentemente apresentada na FEARP como a tese de livre-docência de Sônia. A pesquisadora ainda pretende dar continuidade ao projeto e desenvolver uma “cartilha” para melhor orientar os gestores públicos das cidades envolvidas na questão de melhor planejamento e gastos no que se refere aos investimentos com tratamento de esgotos.
Fonte: Agência USP de Notícias
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