O fundo das Represas Billings e do Guarapiranga está contaminado com metais pesados. Chumbo, cobre, níquel e zinco são alguns dos elementos químicos encontrados por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). Para os especialistas, a contaminação dos sedimentos compromete a qualidade da água. Responsável pelo tratamento, a Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) afirma que não há risco para a população.
A contaminação dos reservatórios paulistas, que abastecem cerca de 4,5 milhões de pessoas na capital e na Grande São Paulo, é atribuída ao esgoto despejado irregularmente por casas e indústrias. Em alguns trechos, os pesquisadores detectaram cobre até 30 vezes acima do nível de segurança recomendado por agências de saúde.
Esses valores, que têm por base os padrões da Agência Canadense do Meio Ambiente (ACMA), apontam para a possibilidade de intoxicação, conforme a pesquisadora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, Silvana Cutolo Audrá. `O consumo de água contaminada com metais (pesados) pode acarretar náusea, dor de cabeça, irritações na pele e mucosas. A exposição a longo prazo pode ser mais severa, como defeitos congênitos, diminuir a fertilidade e surgimento de câncer.`
Controvérsia. A Sabesp diz monitorar a `evolução da concentração de metais nos mananciais utilizados para abastecimento público`, sem detectar nenhum risco à saúde da população. E ressaltou que seu processo de tratamento atende rigorosamente às regras previstas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). `Os padrões e limites de potabilidade são estabelecidos a partir de critérios rigorosos e anos de pesquisa, até toxicológica. Isso posto, o pleno atendimento a esses padrões e limites são suficientes para garantia da saúde`, afirma, em nota.
Nas oito estações de tratamento, a companhia diz que não sobram metais pesados após o processo de tratamento e decantação. No entanto, para o biólogo e autor do estudo, Marcelo Luiz Martins Pompêo, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências, da USP, existe a possibilidade de a água ser contaminada. `Isso não quer dizer que a água não é potável. Mas essas estações não foram construídas para essa finalidade (retirar metais pesados).`
Esgoto. Além do monitoramento dos sedimentos realizado pela Sabesp, especialistas alertam para a necessidade de ações de captação e tratamento de esgoto despejado irregularmente. `A contaminação também é decorrente das ocupações irregulares nas áreas de mananciais, que lançam esgoto sem tratamento nos reservatórios`, diz o biólogo e ex-funcionário da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Aristides Almeida Rocha.
Cerca de 1 milhão de pessoas vivem em áreas de preservação na Billings e na Guarapiranga, de acordo com a Secretaria de Habitação. A falta de coleta de esgoto por rede é o principal problema de saneamento apontado em pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de agosto. Mais da metade dos domicílios recorre a fossas sépticas e valas ao ar livre ou lança o esgoto em cursos d`água.
Para tentar acabar com o problema, a Secretaria Estadual de Saneamento e Energia lançou o Programa Vida Nova Mananciais. Até 2015, pretende-se investir R$ 1,3 bilhão, com a retirada de famílias que ocupam o entorno das represas; urbanizar favelas e criar redes de esgoto. `Temos de concluir esse projeto de coleta e tratamento de esgoto e fazer a urbanização de 45 favelas na região da Billings e da Guarapiranga`, afirma a secretária da pasta.
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário